Um livro-viagem pela Capital Nacional

Resenha | Aléxis Góis *

O Jornalista Sem Solução transita entre o sol de meio dia (coisa para matutos) e os corredores subterrâneos da capital federal brasileira, afrontando o que há de mais central na concepção ideológica da cidade planejada: a lógica racional de sua arquitetura, vias e blocos, e da funcionalidade entre a urbis e os poderes.

Em suas entrelinhas, os diários desconstroem, em sua narrativa, a monumentalidade do espaço urbano: ora privilegia o sucateado transporte público brasiliense em uma cidade executada em louvor do automóvel; ora enaltece os subpersonagens marginais da universidade que imita a arquitetura da cidade; e se afasta da institucionalidade do poder e dos engravatados, ao preferir caçar capivara no Cerrado e comer churrasquinho de gato na rodoviária local do que se espalhar pela esplanada que dá acesso à praça mais poderosa do país.

Contudo, nem tudo é confronto na narrativa da personagem principal. O diálogo é direto e aberto, principalmente entre o narrador e o leitor, mas também entre as outras personagens. Em determinado momento, a conversa é estabelecida diretamente com Deus – sem a intermediação de religiões, em um tom informal, tendo como pano de fundo um templo ecumênico, fazendo jus ao clima místico presente em Brasília.

A universidade se torna um microcosmos da capital e se destaca no texto. Entre a sala de aula e o subsolo do bloco, o Jornalista Sem Solução prefere enaltecer o incomum, o inusitado, o semi-escondido, o marginal, o inacessível a um primeiro olhar ligeiro. A descrição dos fatos se desloca, muitas vezes, de uma verdade objetiva para revelar uma peculiar visão subjetiva que se apoia no superlativo dos detalhes para desvelar as camadas superficiais da realidade retratada.

Todos estes elementos são tecidos com uma riqueza de referências imagéticas e sensoriais, alternando entre o tom descritivo, diálogos e fluxo de pensamento. O ritmo estabelecido, com uma narrativa leve ao estilo de crônicas, convida o leitor à imersão em um livroviagem (aludindo aos road-movies).

* Aléxis Góis é jornalista, escritor, documentarista e produtor cultural; o texto desta resenha foi publicado originalmente como prefácio do livro Diários de um jornalista sem solução.

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Ficha Técnica:

Nome: Diários de um jornalista sem solução.

Autor: Renato S. M.

Editora: E-Liber.

Gênero: Literatura.

Número de Páginas: 262.

Ano de Publicação: 2020.

Formato: Pocket.

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