As minhas mulheres, O retorno e o Holocausto em ‘Leitura, Quase leitura e Não leitura’

Diários de leitora | Tainara Quintana da Cunha*

Nesta coluna publicada originalmente no blog E-Liber, cada participante registra – em poucos caracteres – um de seus diários de leituraquase leitura e não leitura.

Leitura. Li, com emoção, Todas as minhas mulheres, de Jeanice Garcia (2020). O livro de estreia de uma prima escritora ou, escritora-prima relata a trajetória das mulheres de nossa família, especialmente de sua mãe, Ana Cardoso. Em meio às narrativas encontrei a vó Irene e o vô João, a tia Cleusa e o pai, Cleumar. Revisitei histórias que já conhecia e outras insuspeitas. Segredos de família, coisas dolorosas e outras alegres também. Nas fotografias revi pessoas queridas da primeira infância e que, ainda hoje, me são caras. O cenário é basicamente a cidade do Rio Grande, à beira da Lagoa ou Laguna dos Patos; o que não impede que a evocação das personagens ancestrais parta da Polônia e estenda-se pelas colônias polonesas do interior catarinense e paranaense dando conta da saga da família Dolewka. O exemplar veio autografado: “Essa história também é tua”, o que mais me emociona! Um livro do qual gosto de falar. Afaga qualquer coisa de fundamental. As histórias e estórias nele contidas são as minhas também.

Quase leitura. O retorno (2012), romance de Dulce Maria Cardoso me foi apresentado durante a pesquisa para tese de doutoramento. Comprei a bela edição pela internet, seduzida pela encadernação da Tinta da China. Ainda não esqueci o pouco que li da narração de Rui, o protagonista egresso da Luanda pós-colonial. Parei a leitura na página 60, atropelada por outras demandas. Espero “retornar” à leitura d’O retorno.

Não leitura. Comprei o exemplar na livraria pelo título. O Holocausto brasileiro (2013), de Daniela Arbex, com prefácio de Eliane Brum estava na estante dos mais vendidos. Segundo a contra capa, trata-se do abandono de milhares de pessoas diagnosticadas como “doentes mentais” em hospício de Barbacena, interior de Minas Gerais. O livro-reportagem traz fotografias bastante impactantes do tipo abandono de seres humanos, semimortos com moscas voejando em redor e registros de documentos que atestam a venda de cadáveres. Por motivos óbvios, pelo menos para mim, este livro me deixa tensa. Faz descrer em humanos. Talvez seja a causa de nunca ter emplacado a leitura. Espero fazê-la, tão logo crie coragem de imergir no holocausto brasileiro.

* Tainara Quintana da Cunha é Doutora em Letras pela Universidade Federal do Rio Grande (FURG). Membro do Conselho editorial da E-Liber. Dedica-se à escrita narrativa e arrisca uns versos simples.

Contato: tainaraquintana24@gmail.com

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