A utilidade de ser inútil

Resenha | Aléxis Góis *

Ser inútil não tem utilidade alguma. Ou teria? Como as coisas úteis poderiam ser promovidas sem a contraposição com a inutilidade? Mas essa discussão presta para alguma coisa? Serviria, ao menos, para explicar o livro [ Sobre as coisas inúteis ] que virá a seguir… ou então não teria serventia alguma, apenas teria a função de confundir?

A filosofia, o suposto amor pelo conhecimento, surgiu para contemplar a beleza e a perfeição da natureza e do universo. Mãe de todas as ciências, seus filhos perderam o rumo desde o berço. “O belo é útil”, diria Sócrates. Assim corrompia-se o próprio amor à “perfeição”, que passou a ter um fim específico.

Com o desenvolvimento de outros pensamentos filosóficos, em especial quanto à racionalidade de uma certa lógica de eficiência, a filosofia sofreu um irônico golpe. A sua utilidade em si mesma começou a ser questionada, mesmo tendo prestados enormes serviços ao próprio conhecimento que criticava a sua existência.

A reboque, a poesia e as artes de forma em geral foram jogadas no limbo das outras coisas inúteis. O que não tem uma função clara em uma engrenagem deve ser rejeitado, desestimulado e até eliminado em nome de um suposto reino da utilidade.

O considerado “útil” é valorizado com prestígio, poder e fama nas sociedades. É o que gera “riqueza”, “desenvolvimento”, “evolução”. Em última instância, é o que faz acumular dinheiro, símbolo maior da utilidade nessa lógica de mundo racional.

Mas veja, por que o dinheiro é útil? Por que um punhado de dólares teria mais utilidade que um quilo de mandioca ou as folhas manuscritas inúteis do poeta Saulo? Se a mandioca pode virar farinha, alimentar e movimentar a economia, ou os versos podem gerar livros, suprir as necessidades das almas e, também, gerar riquezas para o autor e editor da obra… teria o dinheiro capacidade de alimentar o corpo e o espírito?

Por essa e outras possíveis respostas, o presente livro não se trata de coisas inúteis como o capital, a exploração do trabalho alheio, regras, normas e burocracias… o assunto principal abordado são as outras coisas inúteis, aquelas que, na verdade, são úteis, como a paixão, as pessoas, o perfume, a pedra, o sangue e o pus.

Afinal, nada é mais útil que a própria inutilidade.

* Aléxis Góis é jornalista, escritor, documentarista e produtor cultural; o texto desta resenha foi publicado originalmente como Apresentação do livro Sobre as coisas inúteis.

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Ficha Técnica:

Nome: Sobre as coisas inúteis.

Autor: Saulo Rodrigues de Carvalho.

Editora: E-Liber.

Gênero: Literatura.

Número de Páginas: 92.

Ano de Publicação: 2020.

Formato: Pocket.

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